Com o Domingo de Ramos a Igreja entra na celebração do Senhor crucificado, morto e ressuscitado. Os ramos e as aclamações no caminho para Jerusalém são já um sinal de que Cristo, morrendo na cruz, triunfou como rei.
O que celebramos neste dia antecipa já o triunfo de Cristo, rei pacífico e humilde, que entra na sua cidade de Jerusalém aclamado como messias, ainda que as autoridades, num primeiro momento, fiquem à margem. Mas, a paz dos pobres, dos simples e dos humildes, é sempre uma ameaça para os que detêm o poder porque põe em causa os seus privilégios e a reacção é, normalmente, violenta. É um pouco isto que se passa depois da entrada de Jesus na cidade.
Nas leituras da Eucaristia, a proclamação messiânica é acompanhada pela figura do servo, um personagem sempre disposto a escutar a palavra e a testemunhá-la em favor dos oprimidos apesar de ser, ele próprio, perseguido. Tudo isto nos aponta para a cruz, o lugar supremo do amor de Jesus, o servo que foi crucificado e exaltado, que se entregou à morte para nos salvar a todos.

  1. Jerusalém

– Eis-nos em Jerusalém, a cidade de Deus, o ponto de chegada de tantos peregrinos ao longo dos séculos… Chegar à cidade era motivo de grande satisfação e louvor: o objectivo estava cumprido. Era ali o centro da vida religiosa e política da província da Judeia, outrora capital do Reino que havia de congregar o povo de Deus… E quando Jesus chega à cidade também congrega: Ele é aclamado pelos simples, pelos pobres e humildes que também estão nas imediações da cidade aguardando com esperança e, por isso, aclamam a sua fé de uma forma diferente…
– Jerusalém representa o fim e o início, o poder e a simplicidade, a aclamação do rei e a condenação de inocentes; lugar de morte e ressurreição… A história diz que esta é a cidade dos grandes acontecimentos…
– Aqueles dias eram “os dias da pátria”, da grande festa nacional… Reinava a alegria e a esperança (sempre assim era quando se ia a Jerusalém!…). Mas havia também desconfiança no meio dos desconhecidos e dos romanos dominadores e cruéis, dos oportunistas, dos provocadores e agitadores… Nos dias dos grandes ajuntamentos Jerusalém despontava por todos os cantos…
– A chegada de Jesus à cidade, com os acontecimentos que se seguiram, denuncia todo este clima de euforia e instabilidade, de evocação dos grandes momentos da história e de revivescência de sentimentos de vingança; de reconhecimento das limitações e de esperança na realização das promessas… Jesus sabe todas estas coisas acerca da cidade e vai experimentar as consequências da sua fidelidade a Deus…

  1. A narração de Marcos

– A narração da paixão no Evangelho de Marcos é extremamente sóbria e directa: narra os factos sem fazer grandes interpretações: foi assim que sucedeu…
– Ao longo do Evangelho Jesus tinha imposto silêncio sobre a sua identidade (“segredo messiânico”)… Agora, tudo se revela… Mas não pela pregação, pela exposição doutrinal diante das autoridades! Revela-se pelos factos: Jesus quer instaurar a soberania de Deus e, por causa disso, mesmo que os motivos não sejam claros, é condenado, crucificado e morto…

  1. Semana Santa

– Iniciamos a semana santa, a grande semana, a maior de todas… Que evocação é que nos propomos fazer dos acontecimentos?…
– A celebração litúrgica não é uma mera recordação das coisas que aconteceram no passado como quem recorda episódios da sua vida pessoal, familiar ou comunitária… Quando nós, na Igreja, “fazemos memória”, tornamos presente a realidade que é comemorada… Quer dizer que tudo o que lembramos é presente e se torna actual…
– Em contexto de pandemia, de limitações aos ajuntamentos e à circulação, pode ser uma oportunidade para irmos ao essencial do que celebramos, pondo de lado as ideias e as práticas da sociedade consumista e burguesa, onde as pessoas só pensavam como haveriam de aproveitar mais estes dias de descanso para passear e gozar… Celebramos o Ressuscitado que é o Crucificado, a vida que é caminho de cruz, a nossa vocação que é servir…
– Vamos aproveitar ao máximo esta semana diferente…