Depois de uma Quaresma e de uma Semana Santa vivida em recolhimento, eis que vemos a luz de Cristo ressuscitado brilhar e apontar para um caminho novo. É provável que “as quarentenas”, impostas ou livremente escolhidas, tenham exercitado o nosso espírito para aguardar algo de novo; nos tenham despertado para a consciência da nossa fragilidade e para urgência de pensar nos outros e na situação das nossas comunidades. Aquilo que tantas vezes rezamos na Liturgia: “Concedei-nos, Senhor, a graça de tomar parte na vossa paixão por meio dos sofrimentos da vida, para que também em nós se manifeste a vossa salvação”, tem sido experimentado de maneira muito especial nos últimos tempos. Pois bem: a salvação está aí. Não é apenas “uma pequena luz que se começa a ver ao fundo do túnel”; é a alegria plena, a felicidade, a ressurreição porque “o túmulo está vazio e Cristo ressuscitou”.
1. Discípulos juntos
– Todos os acontecimentos à volta da morte de Jesus, narrados nos Evangelhos, mostram que os discípulos não foram suficientemente capazes de acompanhar o Mestre… A paixão e a morte contradiziam tudo o que Jesus tinha feito e dito…
– Mas, também chama a atenção o facto de eles não terem desistido… Entre a vontade de continuar e as dúvidas que a morte levantou, vemo-los a procurar juntos algumas respostas para perceber o significado de tudo o que se tinha passado…
– Pedro, no discurso dos Actos dos Apóstolos, fala em nome do grupo: ”nós somos testemunhas”; “nós, que comemos e bebemos com Ele…”
– As suas palavras não são saudosistas nem de lamento… Ele proclama uma Boa Nova para todos os tempos e lugares: “Deus não O abandonou mas ressuscitou-O”…
– A partir do momento da ressurreição o protagonismo passa para o grupo, para a comunidade, a Igreja: ”Jesus mandou-nos pregar ao povo e atestar que Ele foi constituído juiz dos vivos e dos mortos…” A missão é proclamar que é Ele que salva; e a ressurreição é o principal sinal da salvação…
2. Proclamar a alegria
– Dadas as circunstâncias que estamos a viver, a pandemia do coronavírus, fomos forçados a confinamentos que nos têm impedido de celebrar juntos a fé… As soluções alternativas de acompanhamento à distância, que são as possíveis, têm mostrado que, comparadas com as celebrações presenciais, são muito pobres e, uma das imagens que está a sobressair, é a de uma Igreja triste…
– É verdade que temos muitas razões para estar tristes… Também os discípulos tinham…
– Pedro e João correm ao sepulcro e “o discípulo amado”, que corre mais depressa, depois de entrar no túmulo, “viu e acreditou”… Ele não viu o ressuscitado, não assimilou logo tudo o que se teria passado; viu apenas o lugar onde tinha sido depositado, e acreditou… Podemos não ver todos os problemas resolvidos mas, acreditamos…
– E S. Paulo (2ª leit) diz para “nos afeiçoarmos às coisas do alto” uma vez que ressuscitámos com Cristo. A consciência da gravidade da situação que vivemos, não nos pode impedir de proclamarmos que o amor de Deus é mais forte que a morte e que o horizonte da vida não tem fronteiras…
– Se algo caracteriza o crente em Jesus Cristo ressuscitado é a alegria de viver e de partilhar… Pode não ser sempre possível manifestar isso com a família, os amigos, os irmãos na fé, da maneira que costumamos fazer… Mas, o entusiamo deve ser o mesmo: a fé aponta-nos sempre para um outro mundo a partir de Jesus, para a certeza de que a vida pode mudar para melhor…