Levados pela pressa encontraram a vida
Procuro à noite, um sinal de ti. Espero à noite, por quem não esqueci. Eu peço à noite, um sinal de ti. Que o amor te salve nesta noite escura, amor que se acende na manhã mais dura. E há uma luz que chama, e outra luz que cala, e há uma luz que é nossa. O princípio do mundo começou agora, a semente será fruto pela vida fora. Esta porta aberta nunca foi selada pra deixar entrar a última hora.
Ainda há fogo dentro! Ainda há frutos sem veneno! Ainda há luz na estrada! Podes subir à porta do templo. Que o amor nos salve…
Leitura I At 10, 34a, 37-43
Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele. Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém; e eles mataram-n’O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às testemunhas de antemão designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter ressuscitado dos mortos. Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É d’Ele que todos os profetas dão o seguinte testemunho: quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome a remissão dos pecados».
O encontro de Pedro com Cornélio e sua família é um modelo de catequese que dá a conhecer Jesus como o Messias, anunciado pelos profetas, e conduz a uma profissão de fé na qual se reconhece que só a fé em Jesus pode lavar dos pecados.
Salmo 117(118), 1-2, 16ab-17, 22-23
O salmo é uma verdadeira ação de graças, encenada como uma liturgia. Ao longo do salmo são dadas indicações do que fazer e como fazer nesta ação de graças. Os versículos que se cantam nesta celebração recordam a misericórdia de Deus que tem poder para dar a vida e torna fundamental a pedra rejeitada. Trata-se de uma alusão a Jesus, o rejeitado pelos homens, aquele a quem mataram, mas reconhecido como pedra fundamental aos olhos do Senhor que o ressuscitou.
Leitura II Col. 3, 1-4
Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo Se encontra, sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, então também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória.
Paulo recorda que, pela ressurreição de Cristo, nos tornámos cidadãos do céu, estamos revestidos de Cristo pelo batismo e temos no céu o nosso coração. Estando ainda na terra não nos deixamos convencer pelo homem velho, mas vivemos como homens novos que procuram as coisas do alto.
Ou I Cor 5, 6b-8
Irmãos: Não sabeis que um pouco de fermento leveda toda a massa? Purificai-vos do velho fermento, para serdes uma nova massa, visto que sois pães ázimos. Cristo, o nosso cordeiro pascal, foi imolado. Celebremos a festa, não com fermento velho, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com os pães ázimos da pureza e da verdade.
Com a sua morte e ressurreição, Cristo, o Cordeiro pascal, deu início a uma nova forma de existência, da qual não faz parte o velho fermento que contamina aqueles que aderiram a esta vida nova. Todo aquele que, pelo batismo, participação no mistério pascal, vive esta vida nova, deve afastar-se de toda a espécie de maldade.
Evangelho Jo 20, 1-9
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo que Jesus amava e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram». Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se, correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: viu e acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.
Ainda é de noite e o coração da Madalena está mergulhado na morte. Ela procura o corpo morto de Jesus, sem saber que o seu coração deseja o Cristo vivo, ressuscitado. São os apóstolos, sobretudo o discípulo amado, quem reconhece no lugar da morte os sinais dessa vida nova que Jesus já tinha anunciado.
Reflexão da Palavra
O texto da primeira leitura é tirado da pregação de Pedro, no contexto do Batismo de Cornélio e da sua família, presente no livro dos Actos dos Apóstolos. Estamos em pleno capítulo 10 e o evangelho está a expandir-se para fora dos limites do povo de Israel. O batismo desta família é um sinal de que o evangelho se anuncia aos gentios. Pedro é convidado a ir a casa daquele pagão e aceita o convite. No momento certo, com a casa cheia de gente, Pedro dá início a uma catequese que começa pela afirmação “reconheço que Deus não faz aceção de pessoas” e passa a falar de Jesus com as palavras que dão corpo ao texto escutado e conclui que, “quem acredita nele recebe, pelo seu nome, a remissão dos pecados”.
A catequese de Pedro consiste em contar o que aconteceu ao início do ministério de Jesus, factos que já são conhecidos dos ouvintes, por isso começa afirmando “sabeis o que ocorreu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou”. Porque quer Pedro contar se já todos os presentes ouviram já falar deste assunto e conhecem os factos? Porque falta àqueles ouvintes um pormenor fundamental, é que tudo o que se refere a Jesus, cumpre o que foi anunciado pelos profetas, “é dele que todos os profetas dão testemunho”.
A catequese propriamente dita, é um resumo de três verdades centrais da fé em Jesus, de tudo o que está já narrado no evangelho, o primeiro livro de Lucas. Aqui, pela boca de Pedro, afirma-se a verdade de fé a respeito da morte de Jesus “a ele, que mataram, suspendendo-o de um madeiro”; a verdade da sua ressurreição “Deus o ressuscitou ao terceiro dia”; e a verdade do encargo missionário aos doze “mandou-nos pregar ao povo e confirmar que ele é que foi constituído por Deus, juiz dos vivos e dos mortos”. No final, Pedro recorda que o perdão dos pecados não vem do cumprimento da lei, mas da fé em Jesus.
Fundada por Epafras, discípulo de Paulo, a comunidade de Colossos era formada essencialmente por pessoas vindas do paganismo embora contasse com um grupo significativa de convertidos do judaísmo.
A carta tem na sua origem a existência de cristãos que ensinam erros doutrinais graves que Paulo procura refutar apresentando a verdadeira doutrina. O texto que se lê neste domingo de Páscoa é tirado da segunda parte da carta, na qual Paulo apresenta a ressurreição de Cristo como fundamento da vida cristã, que implica abandonar o homem velho e revestir-se do homem novo. O pequeno texto funciona como passagem da primeira parte da carta, em que Paulo apresenta Cristo, o primeiro na ordem da criação e da salvação do homem, e a segunda parte em que fala dos cristãos como homens novos em Cristo.
Já na carta aos coríntios, opcional, Paulo denuncia uma situação de pecado público, conhecido da comunidade, contra o qual ninguém fez nada, mas que pode estragar a vida da comunidade toda. Paulo recorda que esta situação não é motivo de orgulho para ninguém, e convida a mudar de vida. Porque “Cristo, nossa Páscoa, foi imolado” o “fermento da malícia e da corrupção” deve ser mudado para “pães ázimos da pureza e da verdade”.
O evangelho de João apresenta Maria Madalena em ação. Após a morte de Jesus, todos se refugiam em suas casas, mas esta mulher continua vigilante e ativa. A sua vigilância, porém, é sobre a morte e a sua ação acontece no escuro da noite. De facto, o evangelho revela que ela vai ao sepulcro, lugar da morte, ainda escuro. É a primeira a dar-se conta de não estar o corpo de Jesus no lugar onde o puseram. “O Senhor foi levado do túmulo e não sabemos onde o puseram” diz ela a Pedro.
Com esta notícia quebra-se o silêncio sobre a morte, reaparece em cena Pedro que andava desaparecido e com ele o discípulo que Jesus amava e recomeça a agitação por causa de Jesus.
Os discípulos entram em ação e percebem que não se trata de um roubo, mas do cumprimento da ressurreição anunciada por Jesus. Um ladrão não se dava ao trabalho de dobrar lençóis. Jesus ressuscitou e é necessário fazer o caminho da fé certificada pelos apóstolos e confirmada por Pedro. Embora sem ver, eles já andam iluminados pela luz do novo dia, o primeiro da semana.
Meditação da Palavra
A ressurreição de Jesus revela a impotência da morte perante o poder de Deus e a sua incapacidade de garantir o túmulo fechado diante da luz. O poder da vida é mais forte que todas as mortes e que todas as pedras que guardas os sepulcros. Madalena não sabe disso e os discípulos também não. Os seus olhos ainda não viram o poder de Deus e de como a glória de Deus se manifesta na fraqueza.
A pedra tirada do sepulcro, as ligaduras no chão e o lençol enrolado, são sinais de uma presença ausente. Aquele Jesus, cujo corpo ali fora colocado, está ali de outra maneira, sem que o vejam, porque já não está morto, agora vive para sempre. Já não é visível aos olhos daqueles que não sabem usar a luz da fé. Já não tem necessidade do auxílio das ligaduras nem do lençol para se dar a conhecer. Na verdade, já não são as realidades deste mundo que servem à sua manifestação divina. São apenas sinais de uma vida nova, de um novo dia que começa, de uma página que se abre na história que fala de vitória e não de morte.
O evangelho começa por apresentar o primeiro dia da semana e de como esse dia ficou para sempre marcado como o dia em que Deus se torna presente a cada homem. E fala também de como o acontecimento da ressurreição se tornou palavra. Uma palavra que pode e deve comunicar-se. Um anúncio que corre de boca em boca, mesmo quando começa tímido, na incerteza do que aconteceu, mas sempre anúncio que obriga a ir, a procurar, a querer entender sem entender, a encontrar sem ver. Um anúncio que se torna testemunho, “nós vimos e somos testemunhas destes factos” dirá Pedro, dirão os doze, porque Jesus lhes disse primeiros “sereis minhas testemunhas”.
Uma palavra anunciada que, porém, exige caminho da fé. Primeiro julgam-no morto, depois não sabem onde o puseram, logo começam a ver e só depois e lentamente começam a crer. Caminham todos juntos, este caminho da fé, mas uns chegam primeiros, uns creem primeiro, mas todos creem uns nos outros, uns com os outros, uns a partir dos outros e todos chegam ao Cristo vivo, ressuscitado. O vazio do sepulcro é preenchido pela palavra anunciada pelos discípulos que, vendo sem ver, acreditaram.
O relato da conversão e batismo de Cornélio e sua família, contexto da primeira leitura, é importante porque se trata do primeiro homem totalmente pagão que é referenciado como tendo sido batizado e, esse batismo, é conferido pelo primeiro dos apóstolos, Pedro. A sua importância vem também do facto de que a narração revela que não basta conhecer os acontecimentos da vida de Jesus, mas reconhecer nele, aquele de quem falaram os profetas, que ele morreu, que ressuscitou e que tem testemunhas destes factos nos apóstolos. É ainda uma referência pela ligação clara que estabelece entre a fé em Jesus e o perdão dos pecados. Todos os que querem entrar a fazer parte da Igreja dos apóstolos precisam fazer este caminho de Cornélio.
Paulo insiste na ressurreição de Cristo como fundamento da vida cristã e a necessária união com ele. Pelo Batismo participamos na vida nova de Cristo ressuscitado, para vivermos também nós com ele e como ele ressuscitados. Esta vida nova implica abandonar o homem velho pela conversão verdadeira e revestir-se do homem novo que vive da fé e do amor, consciente da realidade terrena, mas de olhos postos no céu onde se encontram os bens eternos. Pelo batismo, o nosso coração pertence e deseja já as coisas do alto, porque deseja Cristo e Cristo “encontra-se sentado à direita de Deus”.
A vida cristã é como a “nova massa” o pão ázimo da pureza e da verdade. A festa do Cordeiro Pascal, não pode celebrar-se com o velho fermento da malícia, mas com o pão novo, que não contém o velho fermento, porque é pão ázimo.
Rezar a Palavra
Como Madalena, também eu procuro no meio da noite a luz nova da ressurreição que anuncia um novo dia. Como Pedro também corro, na tentativa de chegar, se possível primeiro, para poder entender o que se esconde por detrás do mistério. Como João também eu deixo o coração voar para acreditar que o vazio do túmulo fala de ti, da tua presença, da tua ressurreição. Hoje, quero, fazer a minha profissão de fé, dizendo, “creio que Cristo morreu e que ressuscitou e está vivo para sempre”.
Compromisso semanal
Na certeza de Cristo ressuscitado vivo a alegria de cantar Aleluia.