A festa do Baptismo do Senhor funciona como uma espécie de charneira que faz a ligação entre o tempo do Natal, que estamos a terminar, e o tempo comum, que vai começar. No Natal celebrámos a ternura de Deus, a alegria e a esperança que um nascimento sempre nos traz. E, nestes últimos dias, observámos como Jesus se vai manifestando: primeiro aos pobres e humildes representados pelos pastores; depois aos mais distantes representados pelos Magos que vieram do Oriente; e hoje, a todo o povo no acontecimento do Baptismo, tornando claro que Jesus não é só o menino adorado por pastores e Magos, mas é o adulto e proclamado como o Filho muito amado do Pai.
Passada a contemplação da criança, olhamos para Jesus já adulto, que deixa a pacata aldeia de Nazaré, onde Ele viveu, para se mostrar a todo o povo no contexto de um baptismo público, de envio e de missão. É o momento em que Jesus se apresenta em público para ser reconhecido por todos.

  1. O Baptismo de João e Jesus

– Jesus integra-se no grupo dos seguidores de João Baptista no contexto da expectativa de todo o povo. O seu baptismo é um acto público, num momento em que Jesus está a orar e a participar no encontro com as pessoas…
– A pregação e o Baptismo de João Baptista caracterizam-se pelo convite ao arrependimento e ao perdão dos pecados… Até certo ponto, João Baptista inaugurou uma nova prática para o perdão dos pecados que passava pela mudança de vida e o banho de imersão (no templo, os sacerdotes, através dos sacrifícios, também procuravam sanar os pecados do povo…)
– Era importante este Baptismo de João… Jesus reconhece essa importância ao ponto de se submeter a ele, não porque tivesse pecados mas para se solidarizar com todos os pecadores que se empenhavam numa renovação espiritual e social de acordo com os planos de Deus…
– Depois do Baptismo abrem-se os céus, o Espírito Santo desce sobre Ele e ouve-se a voz do Pai a testemunhar que Jesus é o seu Filho amado.
– Os que estavam presentes e testemunharam o encontro de Jesus com João Baptista, tiveram que decidir entre os dois: João pregava o arrependimento e baptizava com água, já era conhecido de muitos pela sua forma de vida no deserto e pelo impacto que a sua acção criava… A Jesus ninguém o conhecia, “não tinha levantado ainda a voz nem se tinha feito ouvir nas praças” (como o servo da 1ª leitura do profeta Isaías)… Mas, é sobre Ele que recai o Espírito e há-de ser Ele a baptizar com o Espírito Santo e com o fogo… João, como todo o povo, estava na expectativa, sabiam da promessa de Deus; agora verificam que Jesus é o cumprimento…
– O Pai que fala e o Espírito que desce confirmam quem é Jesus… João tinha a missão cumprida, agora começa outro tempo: o tempo de Jesus…

  1. A missão de Jesus

– Há dois personagens que se apresentam como modelo da missão de Jesus: o servo da leitura de Isaías e João Baptista que já se encontrava no terreno e cuja missão parece ter sido cumprida…
– Jesus identifica-se com o servo, com aquele que vem instaurar a justiça não apenas em Israel, mas em todos os povos (“nas ilhas distantes”)… E fá-lo, não de um modo violento ou ruidoso (“não gritará, não levantará a voz nem se fará ouvir nas praças…”); a sua palavra não será imposta por qualquer poder, mas promoverá o direito sem se deixar abater, abrindo os olhos aos cegos, libertando os cativos e prisioneiros, aproveitando todos os sinais de vida à sua volta: “não quebrará a cana fendida nem apagará a torcida que fumega…”
– Como o servo de Isaías e na sequência de João Baptista, Jesus criará espaços de liberdade e quebrará as cadeias porque só a partir da liberdade é que se torna possível a vida e o amor: “Ele passou fazendo o bem e curando todos os que estavam oprimidos” 2ª leitura): cumpriu a sua missão…

  1. O nosso compromisso

– Hoje é um dia também para nos interrogarmos sobre o que fazemos da nossa missão como baptizados. Será que já passámos do Baptismo com água (da cerimónia, do assento no livro, da festa associada) para o Baptismo com o Espírito (da transformação, do compromisso, da missão)?…
– Seria bom que cada um revisitasse o seu Baptismo e “a necessidade de tornar mais forte e eficaz o testemunho da fé”… Depois de ser baptizado ninguém pode continuar igual… No próprio Jesus, este acontecimento significou a viragem: É com o Baptismo que começa a sua missão…
– Que missão é que cada um de nós, baptizado, desenvolve? Que transformações foram operadas? Onde está o Espírito que foi recebido? Qual é a marca que nos diferencia?