«Apareceu no céu um sinal grandioso: uma mulher revestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça».
Vamos começar por fazer a identificação desta mulher:
1 – A mulher, mãe de um Menino
Em primeiro lugar, ela é a personificação da comunidade de Israel, o Povo de Deus da antiga aliança. Este Povo, formado por doze tribos, aparece exemplificado nas doze estrelas que estão sobre a cabeça da mulher. O revestimento da mulher com o sol simboliza a glória divina que rodeava esse Povo de Deus. Por sua vez a Lua é símbolo dos deuses falsos dos Povos do Oriente, que esta mulher (Povo de Israel) esmaga debaixo de seus pés. Esta mulher, é a Mãe de quem nasce um Menino – o Messias – que nós, cristãos, reconhecemos nesse Menino nascido de Maria e que dá pelo nome de Jesus.
Em segundo lugar, a mulher de que nos fala este texto do Apocalipse é a Igreja: a Igreja do tempo da escrita do Apocalipse e a Igreja de todos os tempos. Esta mulher – a Igreja – também é coroada de doze estrelas, que são os Apóstolos de Jesus. O Sol continua a ser a glória de Deus que se manifesta na Igreja e pela Igreja. A Lua debaixo dos pés significa a derrota dos perseguidores da Igreja nos primeiros tempos de vida da Igreja nascente. Esta mulher – a Igreja – gera esse Menino no coração do mundo de então e é perseguida, mas vencerá.
Em terceiro lugar, esta mulher do Apocalipse é Maria. Ela é a encarnação do antigo Povo de Israel, da qual, nasce, de facto, o Messias; Ela é a personificação da Igreja que, apesar de perseguida, sairá vencedora, graças à vitória de Cristo sobre os seus inimigos, pela sua morte e ressurreição.
2 – Mãe e filho perseguidos
A mulher é perseguida e foge para o deserto. O Povo do A.T. teve de enfrentar duras provas até se tornar um povo livre; a Igreja, de todos os tempos, tem sentido na pele, a dureza da perseguição e das incompreensões humanas, mas resiste graças à protecção divina, ainda que passando, longos períodos nos desertos da vida.
O dragão, símbolo de todo o mal, cheio de força, tenta as próprias estrelas e quer arrastá-las consigo. Pretende devorar o filho dessa mulher. Mas esse Filho sairá vencedor, regerá as nações e será arrebatado para junto de Deus. A mulher, essa, mesmo a viver no deserto, será guardada e defendida por Deus.
Em todas as épocas da história, a Igreja tem sentido oposições, vindas das mais variáveis procedências: umas vindas de fora, procedentes das forças inimigas que usam e abusam do poder para impedir, dificultar ou mesmo destruir a acção evangelizadora que Deus lhe confiou; outras vindas do interior da própria Igreja, pelos erros e pecados de alguns dos seus filhos que lhe ofuscam o rosto e a desprestigiam diante dos homens e à face de Deus. O dragão – o inimigo – tenta sempre perseguir o Filho e a sua Mãe.
Mas Jesus – o Filho – venceu todos os inimigos, pois venceu a própria morte ao ressuscitar. E associou a Si a sua Mãe, Maria, glorificando-a no céu em corpo e alma. A assunção da Virgem Maria, que hoje celebramos é este mistério da vitória sobre o sofrimento, as ameaças e a própria morte, na Pessoa de Jesus e de sua Mãe; é a vitória de Deus sobre a maldade humana; é a vitória da própria Igreja, personificada em Maria elevada ao céu, pois Deus a fará sair vitoriosa das incompreensões de que é vítima.
3 – Maria, razão da nossa esperança
A nossa presença aqui, estimados irmãos, neste dia dedicado à Virgem Maria que também experimentou o que foi viver fora do seu País, por motivos de perseguição por parte das autoridades do seu País, é uma afirmação de fé e de esperança que vale a pena acalentar dentro de nós, apoiados na proteção da Mãe de Jesus. Ela soube, por experiência pessoal, o que é estar fora da sua terra e longe da família, quando, para defesa de seu filho, perseguido por Herodes, teve de fugir para o Egipto. Ela Mãe e membro da Igreja primitiva, experimentou as dificuldades de vida resultantes da falta de compreensão das autoridades e dos povos, perante a fé cristã que estava a espalhar-se por todas as partes do mundo de então. Sentiu a perseguição de que foram vítimas os Apóstolos e os cristãos da primeira geração. Manteve-se fiel ao Filho que Deus já acolhera no Céu, sendo fiel ao ensino dos Apóstolos, com os quais partilhava as alegrias e os anseios das comunidades cristãs nascentes. Dava-lhes certezas e vivia, com elas, a esperança de melhores dias – os dias da vitória final de seu Filho.
Ela é, por tudo isto, a razão da nossa esperança.
4 – Recorramos à sua intercessão
Essa mulher, coroada de estrelas, com a lua debaixo dos pés, está concentrada, de modo perfeito, na pessoa de Maria. Tendo passado pela terra, no meio das dificuldades de vida de todos os mortais, sendo judia com os judeus, fazendo-se cristã com os cristãos, soube o que era viver na sua aldeia e o que era viver no estrangeiro; soube o que era viver com a família e o que foi viver como viúva; soube o que era viver com a presença do filho e o que foi viver depois da sua morte. Mas manteve-se sempre com a lua debaixo dos pés, ou seja, certa da vitória final sobre todas as dificuldades e tribulações. Ela acreditava em seu Filho: acreditava no valor do seu sofrimento e da sua morte; acreditava na sua ressurreição e glorificação e adquiriu a certeza de que nenhum mal deste mundo nem nenhuma lei ou força humana seria mais forte do que Ele. Por isso esperou e confiou, por isso encorajou os primeiros discípulos de seu filho, por isso rezou por eles e com eles.
Esta mulher, caros irmãos é a mesma que vela, hoje, pela Igreja e por nós. Ela conhece as nossas necessidades e angústias e está do nosso lado. Gloriosa, nos céus, junto de Seu Filho ressuscitado, Ela vela por nós. Recorramos à sua poderosa intercessão.